Revista Fadesp / 2 ed. - 2021

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REVISTA

FADESP

Publicação da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa

Ano 1 | n° 2 | Maio / Junho / julho 2021

Margareth Dalcolmo

A médica e pesquisadora da Fiocruz mergulha no cenário pandêmico brasileiro e afirma esperar que o SUS, a Ciência nacional e os mais vulneráveis sejam fortalecidos.

EXPERTISE EM CONCURSOS

JOÃO LÚCIO AZEVEDO

CIDADE INTELIGENTE

Segurança e eficiência são marcas registradas da FADESP

Cátedra celebra laços históricos e literários entre Brasil e Portugal

Canaã dos Carajás é referência para o restante do país


Peixe, Pescador e Pescados do rio Xingu Ações de conservação da ictiofauna, apoio à pesca artesanal e fortalecimento da cadeia do pescado. Importantes contribuições da Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, para a região do Xingu.

Saiba mais em norteenergiasa.com.br.



ÍNDICE

EXPEDIENTE

Fadesp Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa

DIRETORIA Roberto Ferraz Barreto Diretor Executivo Margareth Dalcolmo Foto: Leo Martins

Alcebíades Negrão Macêdo Diretor Adjunto

Editorial Ensino Remoto

Marina Matta Fellipe Pereira Assessoria Jurídica

PG 05

PG 06

Maria do Socorro Souza Executiva de Negócios

Relações Exteriores

PG 09

Capa

PG 10

Raquel Lima Compras e Importação

Ciência & Inovação

PG 13/14

Moisés Martins Concursos e Seleções

Opinião

PG 15

Institucional

Por dentro da FADESP

João Carlos Oliveira Pena Consultoria e Desenvolvimento Institucional

PG 17

Marcelo Moraes Financeiro e Contábil

PG 18

Marlene Perotes Gestão de Projetos Cláudia Coelho Recursos Humanos Davi Frazão Tecnologia da Informação Elilian Carvalho Secretaria Geral Lorena Filgueiras Imprensa e Comunicação

EXPEDIENTE REVISTA Editora-chefe Lorena Filgueiras (Ascom/FADESP) MTb/DRT-PA 1505 Reportagens Brena Marques - Ascom/FADESP Lorena Filgueiras - Ascom/FADESP

A Revista FADESP é uma publicação trimestral institucional da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa. Sua distribuição é gratuita. É proibida a reprodução parcial ou total sem prévia acordância da FADESP e sem citação da fonte. Os artigos publicados na Revista FADESP são de responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião editorial da Instituição.

Projeto gráfico e diagramação André de Loreto Melo

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Revisão Fabrício Ferreira

Sugestões, elogios, reclamações: revistafadesp@fadesp.org.br

Analista de TI Raphael Pena

Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa Rua Augusto Correa s/n • Cidade Universitária Professor José da Silveira Netto / UFPA Guamá - Belém/PA| Cep 66075-110 Telefone geral: (91) 4005.7440 / E-mail geral: centraldeatendimento@fadesp.org.br

Tiragem 1.500 exemplares

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EDITORAL

Saúde pública ou economia? Chegamos ao segundo número da Revista FADESP trazendo a médica e cientista da Fiocruz Margareth Dalcolmo na capa desta edição. Eleita “mulher do ano” de 2020, nossa convidada especial é, sem sombra de dúvidas, uma voz que merece (e precisa) ser ouvida e amplificada, pela lucidez com que trata sobre os temas que envolvem a pandemia do Coronavírus. Ao falar sobre Ciência no Brasil, Dalcolmo aborda questões sensíveis como a importância do Sistema Único de Saúde (e sua fragilidade, especialmente em função dos cortes promovidos nos últimos 6, 7 anos), da urgência de proteger os mais vulnerabilizados por essa tragédia mundial e a (equivocada, errônea) dicotomia entre Economia e Saúde Pública - como se ambas caminhassem separadamente. Após um ano de pandemia, conversamos ainda com os pró-reitores de ensino das instituições públicas de ensino superior da Amazonia paraense, sobre as políticas e adequações adotadas para não deixar milhares de alunos sem educação. O ensino remoto, afirmam, é uma realidade que tenderá a estender-se para além deste período tão delicado, como alternativa ao encurtamento de distâncias. Ninguém estava preparado, mas foi necessário buscar diálogos e soluções para minimizar tais impactos. Nesta edição, abordamos ainda um programa que transforma o resíduo da alumina-bauxita em matéria-prima para o agregado sintético, uma solução que deve revolucionar alguns segmentos da economia, dentre os quais, a construção civil. Falando em revoluções, Canaã dos Carajás caminha para o protagonismo de ser a primeira cidade inteligente da Amazônia, uma realidade que a tornou referência para outros municípios brasileiros e que motivou o nascimento de uma rede tecnológica - IARA - para o fomento do uso da inteligência artificial em nosso país. Também trazemos a Cátedra João Lúcio de Azevedo, uma iniciativa de estreitamento dos laços entre a Amazônia brasileira e Portugal, nos segmentos de História, Artes e Literatura. Não menos importante é dizer que em junho as fundações de apoio do Norte do Brasil sediarão (virtualmente) o primeiro encontro regional do Confies, cujo objetivo é aproximar e fortalecer essa rede de ciência e tecnologia no extremo brasileiro, além de demonstrar que nosso papel é insistir, resistir e realizar. Não há outras maneiras de modificar uma sociedade se não por meio do investimento em Ciência e do estímulo à solidariedade. Você encontrará nas páginas a seguir mais conteúdo de qualidade. Orgulhosamente, nossa revista cresceu em número de páginas e tiragem, conquistas que nos foram possíveis porque parceiros acreditam em nós. Uma excelente leitura a todos! Roberto Ferraz Barreto Diretor Executivo/FADESP

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ENSINO REMOTO

Distantes, porém conectados! Por Brena Marques Fotos: Acervo pessoal

Com a pandemia do novo coronavírus, os alunos e professores precisaram se adaptar com as aulas da lousa para a tela do computador. A sociedade em geral encontrou grandes desafios, assim como as instituições de ensino superior. Afinal, como manter a rotina acadêmica durante a pandemia?

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ivemos que nos replanejar e readequar a implantação de um formato de ensino, quer seja não-presencial ou híbrido, que nos levou a pensar em estratégias que minimizassem os prejuízos ao ensino de graduação, dentre os quais, podemos citar a adequação de oferta de conteúdos que eram ofertados exclusivamente no formato presencial; expertise de docentes e discentes em atividades remotas; adequação da infraestrutura para a execução segura das atividades de ensino; condições socioeconômicas e psicológicas do corpo discente e docente; dentre outras”, conta a pró-reitora de ensino da Universidade Federal da Amazônia – UFRA, Ruth Helena Falesi. Atualmente, com 9.381 alunos ativos na graduação, a UFRA realizou um questionário aplicado aos discentes para ter uma visão melhor das condições tecnológicas de cada um. O resultado mostrou que uma grande parte utilizava smartfone para acessar a internet fora das dependências da universidade. Os demais, além do celular, dispunham de computador, notebook ou tablet. Sessenta e cinco por cento dos discentes responderam que a principal forma de acesso à internet ocorria por banda larga fixa e 24% utilizavam o serviço móvel com limitação de dados (3G ou 4G). Nesse contexto, portanto, a UFRA, disponibilizou auxílio inclusão digital (aproximadamente R$200 mil investidos), Kits PCD (que são designados para estudantes com deficiência e de investimento de R$31 mil), bônus internet (chips e bônus). Ressalta-se que além dos recursos financeiros, foram disponibilizadas as infraestruturas dos campi para utilização dos computadores condi-

Ruth Helena Falesi

cionadas ao atendimento do protocolo de biossegurança da universidade. A UFRA investiu aproximadamente R$1.3 milhão no pagamento de auxílios e compra de materiais e equipamentos para garantir a continuidade do ensino, sem o cômputo do investido em outras ações necessárias ao enfrentamento da pandemia. Com os efeitos da pandemia, o EaD veio para dar continuidade aos estudos, desta forma, os alunos não ficam atrasados nos assuntos acadêmicos. “A retomada das aulas, mesmo em um modelo não presencial, ajudou a diminuir o ócio e até problemas de ansiedade, já que o aluno sem aula acaba se sentindo improdutivo de certa forma”, revela Yuri Matias, aluno do 9° semestre do curso de Agronomia UFRA.

Yuri Matias

ENSINO E ALIMENTAÇÃO EM CASA A pró-reitora de ensino da Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA, Solange Ximenes, comenta que para driblar as dificuldades das aulas remotas, elaborou ações baseadas nos perfis dos estudantes em condição de vulnerabilidade socioeconômica agravada pela pandemia. Desse modo, a Instituição manteve, ao longo de 2020, o fornecimento de refeições no Restaurante Universitário. Os estudantes tinham a opção de pegar as refeições e levar para casa. Além disto, foram distribuídos chromebooks (aparelhos parecidos com notebooks), chips de internet, kits de material didático, além de outros tantos investimentos em soluções tecnológicas, instalação de salas inteligentes. Solange também ressalta os obstáculos encontrados para dominar minimamente as ferramentas e para fazer a transposição didática de conteúdos preparados para o ensino presencial e que, de repente, passariam a ser trabalhados de forma remota. “Isso não se faz do dia para a noite. A UFOPA promoveu capacitações, fez parcerias com outras universidades que disponibilizaram cursos e elaborou cartilhas de apoio ao ensino re-

Solange Ximenes

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damente 16 mil discentes e contou com investimento de 7 milhões para realizar ações que diminuíssem as dificuldades durante as aulas remotas.

Thiago Rocha

Pablo Nunes

moto que foram direcionadas para estudantes e professores”. Foram lançados editais específicos para apoio a ações emergenciais (Paem). Só no edital Paem Covid 19, houve aporte de recursos da ordem de R$380 mil e visava a seleção de propostas de ações emergenciais para a prevenção, enfrentamento e combate à Covid-19. Thiago Rocha é aluno do 7° semestre do curso de Zootecnia da UFOPA. Para ele, o fato de não ter interrompido o semestre e ter o incentivo dos professores tem sido uma vitória em meio à pandemia. “Não ficamos parados no estudo e isso foi essencial. Os professores, mesmo alguns não estando familiarizados com todas as ferramentas de tecnologia, fizeram esforços para aprender e estão disponibilizando aulas, marcando nossas reuniões, dando aulas on-line e se dispondo nos aplicativos, como o de mensagens no WhatsApp para tirar dúvidas, o que é muito bom! Vemos que os professores realmente se importam e que fazem questão de nos ajudar”, exalta ele.

em Desenvolvimento de Sistemas, do Instituto Federal do Pará – IFPA, relata que apesar da nova modalidade de ensino ser bem-vinda neste momento emergencial, por conta da segurança, ele também teve muitos problemas com a nova rotina, como dificuldades de concentração, exaustão em reuniões on-line, e os barulhos domésticos, que distraem do aprendizado. Ele conta que a organização do aluno é imprescindível para ajudar nessa mudança. “A minha adaptação foi bastante árdua e consistiu em um processo longo, já que nunca havia tido a experiência das aulas virtuais. Nesse sentido, precisei criar uma nova rotina e um cronograma para organizar minhas atividades do dia. A cada semana, eu revisava o cronograma que tinha criado para fazer ajustes necessários, a fim de melhorar o que não tinha saído como programado na semana anterior”, conta. Elinilze Teodoro, pró-reitora de Ensino do Instituto Federal do Pará - IFPA, acredita que haverá mudanças na educação depois desta experiência mundial. “Sem dúvida muitas mudanças, mais elementos de transformação digital nos cursos e nos serviços institucionais, inclusive a própria educação EaD deve passar por mudanças, essencialmente porque todos passaram a ter muito mais aproximação com essas ferramentas e tecnologias. Dessa forma, o modo de estudar, o tempo de execução do curso, os materiais usados, são alguns dos elementos que acreditamos que serão fortemente impactados e modificados em pouco tempo”, afirma. O IFPA possui aproxima-

ADAPTAÇÃO AO MUNDO VIRTUAL Se ressignificar foi preciso, com as aulas na modalidade de ensino a distância (EaD) os docentes e universitários encontram-se no dia e horário de aula, por meio das ferramentas digitais, como a webconferência. As aulas são administradas com o conteúdo previsto pela instituição, as atividades são pontuadas devidamente, e as dúvidas são respondidas durante as aulas. Pablo Nunes, 17, estudante do 6° semestre do curso de Técnico

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ENSINO VIRTUAL APÓS A PANDEMIA? Maria Clara, 20, é aluna do terceiro semestre do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA. Ela conta que sua maior dificuldade, assim como a realidade de muitos alunos no país, é a questão da falta de estabilidade da internet. “Eu moro na cidade de Bagre, no Marajó, e o sinal [da internet] é muito ruim: usar dados móveis é uma situação que nem dá pra contar, é preciso ter wi-fi e existem dias que ele cai, mas sempre arrumo um jeito para fazer tudo dar certo”, diz. Maria Clara precisou de tempo para entender a importância das aulas remotas e começar a se organizar, criando uma rotina melhor. Ela também acredita que o ensino e o mundo virtual estão se alinhando para além da pandemia, já que muitos cursos a distância ganharam mais importância. “Pressuponho que tenha sido novo tudo isso e muitos têm aprendido coisas novas. Tudo vai se aperfeiçoando aos poucos, o que é fundamental para se>>>

Elinilze Teodoro

Maria Clara


ENSINO REMOTO

Denilson da Silva Costa

alinhar totalmente e ganhar mais espaço em nossa vida”, explica. Denilson da Silva Costa, pró-reitor de ensino da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA, explica que foram criados dois programas para ajudar nessa nova jornada. Para os docentes, o Programa Unifesspa On-line, cujo objetivo principal foi possibilitar o desenvolvimento da proficiência na utilização das novas tecnologias de informação e comunicação para o exercício satisfatório das atividades acadêmicas de forma remota, por meio de treinamentos, oficinas e webinários, com especialistas na área de ensino remoto. Para sanar a dificuldade dos discentes, foi criado o Programa Conecta Unifesspa, com o intuito de apoiar os alunos em situação de vulnerabilidade social com empréstimo de Chromebooks, auxílio financeiro para aquisição de equipamentos de informática e distribuição de planos de dados móveis 3G/4G por meio de chip de telefonia móvel. Com 5.473 discentes matriculados na UNIFESSPA, o pró-reitor crê que o ensino remoto é uma tendência que pode se concretizar futuramente em algumas disciplinas. “Acredito que estamos caminhando para um ensino no formato híbrido, em que as aulas presenciais serão somente para aquelas situações que necessitem de maior interação entre os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Mas há muitas questões a serem resolvidas, como a falta de equipamentos e problemas de acesso à internet dos nossos estudantes”, finaliza. OTIMISMO PARA O FUTURO Há quem veja alguns pontos po-

sitivos nessa mudança para ensino remoto. “As aulas EaD ajudam a otimizar o tempo, pois antes, muitas horas do dia eram gastas em pontos de ônibus e engarrafamentos. Também permite uma flexibilização de horários de estudos, [já que] as aulas ficam gravadas, então posso assistir no meu ritmo, pausar, acelerar e rever quando necessário”, relata Stella Moraes, aluna do 7° semestre do curso de Oceanografia da Universidade Federal do Pará - UFPA. A universitária também conta que os professores estão sendo solícitos e flexíveis, e compreende que os esforços são de ambos lados. “Estamos passando por um momento de dificuldade e procurando dar seguimento para as disciplinas da melhor forma para todos”, afirma. Foi preciso paciência e expertise para realizar mudanças neste cenário, professores e alunos passaram por adaptações desafiadoras, porém, estão colhendo os frutos e obtendo bons resultados. A competência da Universidade Federal do Pará – UFPA em fornecer aulas remotas e amparar os alunos de vulnerabilidade neste contexto foi fundamental. Fazer gestão da maior instituição pública de ensino de toda a Pan-Amazônia, que contabiliza 50 mil estudantes em seus 12 campi (os quais se distribuem entre graduação, especialização, mestrado, doutorado, e aqueles vinculados às residências médicas), foi um árduo trabalho. A Administração Superior da UFPA elaborou um Edital de Inclusão Digital, que por sua vez, já atendeu, até o momento, 4.500 es-

tudantes que se autodeclararam em situação de vulnerabilidade e apresentaram a documentação comprobatória necessária. Por meio do edital, o estudante poderia optar por receber um auxílio financeiro de até R$1.200,00 ou um tablet/ notebook que possibilitaria a participação das atividades acadêmicas desenvolvidas na instituição. “A UFPA contou com parcerias com vários setores: a Hydro, que fez a doação de 890 tablets e que doará notebooks, além do Banco Santander, que por meio do Programa Universia, doou 80 chips para acesso à internet”, relata Marília Ferreira, pró-reitora de ensino da UFPA. Marília Ferreira entende que após a pandemia do Coronavírus, muitas mudanças ocorreram rapidamente, a fim de continuarem suas atividades. Algumas delas dizem respeito ao trabalho e à educação remota. “As tecnologias continuarão marcando presença certamente com incremento, tanto no que se refere à possibilidade de participação de cursos diversos, em instituições nacionais e internacionais, para estudantes de todo o mundo, bem como quanto às ações a serem conduzidas. Acredito particularmente que ainda não temos dimensão do que o homem poderá criar nesses ambientes. O céu não é o limite quando se trata dos ambientes virtuais e da tecnologia. Mais do que nunca tem se verificado a necessidade de contar com equipes bem preparadas em relação ao uso das tecnologias, com indivíduos adaptáveis, resilientes, multitarefas e criativos”, conclui.

Stella Moraes

Marília Ferreira

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RELAÇÕES EXTERIORES

Laços amazônico-portugueses Vinculada ao Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia e à Pró-Reitoria de Relações Internacionais da Universidade Federal do Pará, a Cátedra João Lúcio Azevedo tem, como objetivo, aproximar ainda mais as Instituições brasileiras e portuguesas, nos campos da cultura, contribuindo para ampliar o que conhecemos da realidade amazônica-lusitana.

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inculada ao Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia e à Pró-Reitoria de Relações Internacionais da Universidade Federal do Pará, a Cátedra João Lúcio Azevedo tem, como objetivo, aproximar ainda mais as instituições brasileiras e portuguesas, nos campos da cultura, contribuindo para ampliar o que conhecemos da realidade amazônica-lusitana. A professora Maria de Nazaré Sarges, professora do programa de pós-graduação em História e diretora da Cátedra João Lúcio de Azevedo, conta que a ideia de criação de uma cátedra vinculada ao Instituto Camões surgiu em uma viagem do reitor da UFPA Emmanuel Tourinho a Portugal, em 2016. “Na ocasião, junto com a professora Maria Adelina Amorim, da Universidade Nova de Lisboa e pesquisadora do CHAM [Centro de Humanidades], articularam a proposta de abertura de uma cátedra na Universidade Federal do Pará”, detalha. “Devemos a ela [Maria Adelina], também, e aos seus estudos de história da Amazônia, a sugestão de João Lúcio de Azevedo para dar nome à cátedra. Acolhemos a sua sugestão de imediato, pela expressão que daria à interação entre Portugal e a Amazônia; pela inspiração que proporciona para o trabalho a ser desenvolvido e pela possibilidade de contribuir para promover uma obra intelectual das mais relevantes para amazônidas e portugueses”, declarou Tourinho por ocasião da assinatura do protocolo, em 29 de setembro de 2017. A empreitada teve êxito porque foi uma proposta muito bem acolhida pelo Instituto Camões e, posteriormente, pelo embaixador de Por-

Az eve do

Por Lorena Filgueiras Fotos: Divulgação/Acervo pessoal

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i úc oL Joã

Maria de Nazaré Sarges

tugal no Brasil, Jorge Cabral, detalha Sarges. “A escolha do nome de João Lúcio de Azevedo já, em si, retrata bem as relações históricas entre a Amazônia, em especial o Pará, e Portugal. João Lúcio nasceu em Sintra, nos arredores de Lisboa, e embarcou para Belém do Pará, em 1873, onde trabalhou e se tornou sócio de uma empresa de navegação, foi caixeiro da famosa Livraria Universal, dos irmãos Tavares Cardoso. Autodidata, aprendeu várias línguas e começou a escrever as suas primeiras obras. Ainda no Pará, publicou cinco artigos que, reunidos, formariam o seu primeiro livro, Estudos de História Paraense. Fez pesquisas e foi um dos colaboradores do Arquivo e Biblioteca Pública do Pará, um dos fundadores do Instituto Histórico e Geográfico do Pará e participou ativamente de várias sociedades literárias e estudos históricos, como a Sociedade de Estudos Paraenses. Já no início do século XX, já com uma grande fortuna, foi viver na França, onde continuou suas atividades como historiador. De regresso a Portugal, já completamente livre das atividades comerciais, iniciou o período mais produtivo, publicando di-

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versas obras importantes, como O Marquês de Pombal e a Sua Época, História de António Vieira, A Evolução do Sebastianismo e História dos Cristãos-Novos Portugueses. Organizou ainda a melhor edição das cartas do Padre António Vieira jamais publicadas”, conta Aldrin Moura de Figueiredo, professor da Faculdade de História, pesquisador associado à Cátedra e seu vice-diretor. João Lúcio de Azevedo é considerado um dos maiores historiadores portugueses do início do século XX e continua, ainda hoje, a ser regularmente editado em Portugal e no Brasil. “Foi amigo chegado dos historiadores brasileiros Capistrano de Abreu e Manuel de Oliveira Lima e de escritores paraenses como José Veríssimo, Domingos Antônio Raiol e José Coelho da Gama e Abreu”, complementa Aldrin. Diante da grave crise humanitária e sanitária que assola o mundo, as atividades da cátedra precisaram passar por adequações e foram mantidas virtualmente, inclusive o Encontro Internacional de Cátedras Brasileiras do Camões I.P. – que reunirá todas as cátedras em evento on-line.

Aldrin Moura de Figueiredo


CAPA

“A Ciência sairá vencedora!” Por Lorena Filgueiras Fotos: Leo Martins

A cientista e médica Margareth Dalcolmo é um dos nomes mais citados e respeitados quando se fala da pandemia de Covid-19 e é perfeitamente possível compreender os motivos. Seu discurso é pautado pela defesa e inclusão da população vulnerável, ao mesmo tempo em que olha para o cenário e vê a vitória da Ciência – não a um custo baixo (muito ao contrário), mas, sobretudo, esperançoso, pelas verdades que a pandemia revelou. Dentre as várias declarações, a firmeza de dizer que auxílio emergencial não deveria ser entendido como medida econômica – e, sim, como saúde pública. A entrevista que você lerá ocorreu pelo telefone, na manhã de um sábado. Rouca, pelo esforço de atender ao máximo de solicitações da imprensa, já com o gravador desligado, Dalcolmo comentou que o começo da pandemia lembrou-lhe demais do livro “Ensaio sobre a cegueira”, de Saramago, um de seus escritores favoritos. Perguntou ainda se estávamos bem, agraciando a Revista FADESP com uma entrevista profunda e sensível.

Revista FADESP: A senhora é uma voz extremamente relevante na comunidade científica, ao passo que é uma voz dissonante de um discurso negacionista que, mesmo diante do crescente número de infectados e de óbitos no país, continua firme. Qual seu olhar sobre isso tudo? Margareth Dalcolmo: Nós estamos sendo penalizados, no Brasil, desde o começo da pandemia, por um discurso dissonante, porque enquanto nós identificávamos que viveríamos algo muito grave, de grande magnitude,

passamos a conviver com esse paradoxo entre o que Ciência brasileira e mundial diziam e o um discurso negacionista. A dissonância, diria eu, foi tanto quantitativa, como qualitativa – e isso fez muito mal ao nosso país, [porque] criou muita confusão entre uma opinião pública, que tem níveis de educação e compreensão muito diferentes e muito desiguais. O Brasil paga um preço muito alto, em todos os sentidos, e, principalmente, no número de mortos, que poderia ter sido evitado... ou reduzido, se tivéssemos feito ape-

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nas duas coisas, desde o início: um discurso um pouco mais homogêneo e pacífico, sem tantas tensões desnecessárias; e uma coordenação central harmônica conduzindo o processo, como já tivemos, outras vezes no Brasil. Não isso: nós [cientistas, infectologistas] dizendo uma coisa e o próprio Ministério da Saúde dizendo outra! Além das trocas de ministros da pasta! Então, nada disso colaborou para que tivéssemos harmonia e consistências adequadas no controle epidêmico. Então, respondendo agora objetivamen-


te a sua pergunta, eu fico, sim, muito chocada, quando eu vejo pessoas que ainda negam a necessidade de usar essa barreira mecânica tão potente, que é o uso de máscaras – mas, diga-se, máscaras adequadas. Estamos vivendo hoje a circulação de variantes muito mais infectivas, mais transmissíveis e fico triste de ver pessoas circulando sem proteção ou usando máscaras impróprias. Dentre as coisas que estamos [a Fiocruz] propondo é a distribuição de máscaras apropriadas. Revista FADESP: Em meio a esse cenário desolador que temos vivido, percebo que as pessoas têm falado mais de Ciência, que tem sofrido cortes significativos nos valores previstos em orçamentos e investimentos. Dito isto, a senhora crê que quando tudo passar, teremos aprendido a lição e valorizaremos a produção do conhecimento científico no Brasil? O que a sra espera que fique como saldo positivo no pós-pandemia? Margareth Dalcolmo: Acho que ainda carecemos de ter um nível de educação mais sofisticado, digamos, para que o que vou lhe dizer seja massivamente compreendido. Minha visão como médica e cientista diz que a Ciência sairá vitoriosa, sem dúvida alguma, dessa pandemia. Mas ela sai vitoriosa a um preço muito desigual e alto. Por que ela sai vitoriosa? Porque o homem foi capaz de um feito extraordinário: criar tantas vacinas e colocá-las no mercado em menos de um ano. Foi ainda capaz de demonstrar quais tratamentos não funcionam; capaz de estudos epidemiológicos e de responder perguntas. É claro que ainda há muitas outras que precisam ser respondidas... até porque ainda temos muito mais perguntas que respostas. No meio brasileiro, um dos produtos positivos desta tragédia humanitária e sanitária toda, que estamos vivendo, foi um reconhecimento, de boa parcela da sociedade civil brasileira, de que existe um saber local, existe uma Ciência brasileira! Sofremos um processo, ao qual chamo de “imunização

compulsória”, muito em razão de nós [pesquisadores e cientistas] termos ido à mídia, de dissecarmos o assunto, no sentido de dar compreensão ao público leigo. Tudo isso expõe a Ciência de um jeito muito positivo: a população agora sabe que somos muitos e que muitos de nós não fomos embora, uma vez que há que se registrar que o Brasil vivenciou um êxodo de cérebros preciosos, que saíram do país, por não encontrarem aqui condições adequadas para continuar suas pesquisas. Nós, que ficamos aqui, somos os responsáveis por produzir conhecimento que seja útil para a sociedade. O fato de nós termos saído de nossos microuniversos de trabalho gerou algo muito simpático. Revista FADESP: A sra. Conquistou muita deferência e prêmio [de mulher do ano de 2020], ao passo de, imagino, que as solicitações de entrevistas tenham aumentado enormemente, já que a sra também tenta conciliar seu papel como pessoa pública e de médica. Como tem sido essa relação com as pessoas? Margareth Dalcolmo: Quando alguém me reconhece no hall do elevador ou mesmo no supermercado, sempre recebo demonstrações de grande afeto e de grande respeito, o que me deixa muito comovida, muito segura de que fizemos a coisa certa, que foi trazer a público a interpretação de tamanho problema, fazendo permanentes alertas. Um outro produto que considero muito positivo também, Lorena, e que merece registro, porque é muito novo pra mim, já que tenho conversado muito com a imprensa, é a criação de um voluntariado de alta qualidade no Brasil. Desde a minha primeira entrevista, que foi concedida à Rede Globo, em 13 de março do ano passado, disse: a sociedade precisará que a iniciativa privada compareça. Não podemos deixar todo o peso da pandemia que está chegando nas costas do governo. Nosso país tem uma concentração de renda e precisamos que essas pessoas se sensibilizem

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para que doações grandes e verdadeiras sejam feitas no sentido de assistir a quem precisa. E tivemos, assim, iniciativas sensacionais, mas estamos num momento de pedir que esse movimento seja reativado, porque a epidemia é muito longa. Estamos vendo pessoas carentes e comunidades com seus depósitos e reservas completamente exauridos já, então aguardamos que se faça, de novo, esse volume de doações. Revista FADESP: Reforçando que somente Ciência e solidariedade nos salvarão... Margareth Dalcolmo: Exatamente. Tenho dito sempre que não é possível que nós ainda mantenhamos essa dicotomia completamente falsa entre economia e Ciência, ou seja, dar assistência financeira, segurança alimentar às populações desvalidas não é uma ação da economia, é uma ação de saúde pública! Acho que esse foi um entendimento que, de certa maneira, conseguimos sensibilizar uma parte do empresariado. Hoje temos parceiros que discutem ações nesse sentido. Revista FADESP: Nesse sentido, lembrei de uma declaração sua, relativamente recente, e que me marcou muito: de que o auxílio emergencial não podia ser considerado uma medida econômica... Margareth Dalcolmo: Trata-se de uma questão de saúde pública! >>>


CAPA

(...) o SUS não serve uma minoria, até porque a resolubilidade do SUS é para quase 80% da população brasileira!”

Revista FADESP: E aí vivemos uma semana em que o país registrou 4 mil mortos num único dia, tornando a projeção de meio milhão de mortes ainda mais próxima; que foram divulgados novos dados sobre o mapa da fome, que é maior e mais excludente de uma significativa parcela vulnerável da população e que, se é que é possível, fica ainda mais vulnerável... Margareth Dalcolmo: Nós estamos propondo e, falo particularmente por mim, que fechássemos o país por duas semanas inteiras. Tudo, absolutamente tudo, para tentar interceptar a transmissão e, sobretudo, dessas novas variantes que estão circulando e vitimando pessoas cada vez mais jovens. Revista FADESP: A sra. contraiu Covid logo que a pandemia começou, não é? Margareth Dalcolmo: Tive sim, no pico epidêmico em maio do ano passado. Revista FADESP: O que a sra sentiu? Margareth Dalcolmo: Eu tive em outro momento, porque continuei trabalhando, exposta. Senti muito medo,

porque a Covid 19 é uma doença, ainda mais naquele momento, que gera muita insegurança. Tomei algumas providências de maneira objetiva, porque se eu fosse para ventilação mecânica... a gente nunca sabe se sai ou não sai. Confesso que, enfim... [ela para um momento] Tentei tornar aquele momento produtivo: escrevi um capítulo de um livro, escrevi as colunas de O Globo, que eram semanais. Tive neuropatia periférica, sentia muita dormência, fiquei muito cansada. Fiquei no hospital por curtíssimo tempo e me recuperei em casa, por conta da forma moderada da doença. Revista FADESP: Outro olhar mais atento, que isso tudo nos proporcionou foi perceber quão sofisticado e democrático é o Sistema Único de Saúde. A sra arriscaria uma previsão de como ele sairá desta experiência? Margareth Dalcolmo: É difícil dizer, mas temo que saia mais combalido do que entrou. Outra coisa que também disse, ainda no início, é que teríamos duas grandes armas para fazer frente à pandemia: o SUS, basicamente, sua capilaridade e capacidade e o distan-

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ciamento social. Além de as vacinas, é claro! Mas há que se entender que as vacinas, sozinhas, não fazem milagre! É preciso se somar às vacinas outras medidas e o distanciamento social é uma das mais importantes. Não se consegue interromper a cadeia de transmissão se não deixar de favorecer a transmissão por meio da aglomeração de pessoas. O SUS sai mais valorizado, pelo entendimento das classes menos favorecidas, mas, também, pela classe empresarial – o que me deixa bem feliz. Isso significa que compreenderam que o SUS não serve uma minoria, até porque a resolubilidade do SUS é para quase 80% da população brasileira! O investimento em saúde não é gasto: é desenvolvimento, sobretudo quando se pensa nas gerações futuras. Revista FADESP: Espero que o futuro nos traga alento, diante de tantas irreparáveis perdas. Margareth Dalcolmo: A valorização da Ciência brasileira é um resultado positivo. Tenho um olhar de esperança nas novas gerações, nos novos médicos que estão se formando agora, nos jovens que estão no ensino médio... que possamos estimulá-los ao mergulho na Ciência, por meio de leitura. Isso tudo pode ser de grande ajuda.

(*) As fotos da médica e pesquisadora Margareth Dalcolmo foram realizadas seguindo rígidos protocolos de segurança sanitários, respeitando distância e mantendo uso de equipamentos pessoais. A médica só retirou a máscara para fazer os registros.


CIÊNCIA & INOVAÇÃO

Cidade inteligente Por Lorena Filgueiras Fotos: Divulgação

O futuro já chegou há algum tempo no Pará, que abriga uma das primeiras do Brasil. Canaã dos Carajás, no Sudeste do estado, terá um complexo sistema integrado de inteligência artificial e incentivo à criação de startups.

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o princípio, o desafio era a conectividade. Até que houve um boom da expansão de telefonia celular, no ano de 2012, parte do Plano Geral de Metas da Competição da ANATEL. Já o grande desafio de acesso à internet, localmente, foi parcialmente solucionado pelo programa governamental Navega Pará, que transformou inúmeros municípios do interior do estado nas primeiras cidades digitais, ao garantir conexão gratuita em lugares públicos. À época, o professor Renato Francês, coordenador do Laboratório de Planejamento de Redes de Alto Desempenho da UFPA (LPRAD/ UFPA), estava à frente da implantação desse ousado programa do Governo do Estado. Após um período para realização de pós-doutorado em Portugal, a ideia de ampliar o uso (e o retorno revertido em benefícios à sociedade) da “internet das coisas” tornou-se o embrião de um projeto que conquistou espaços maiores. “A ideia é que a cidade pode ser monitorada de tal forma que o cidadão, sem muito esforço, não necessite denunciar algum funcionamento não adequado de determinados serviços ao Poder Público, pois os próprios dispositivos implantados na cidade seriam capazes de fazer essa tarefa pelo cidadão. Poderia falar ainda de outras ideias inteligentes, como bengalas inteligentes com uso de sensores, que conseguem “dizer” ao deficiente visual onde é a faixa de pedestre e quando tem que atravessar”, explica Renato Francês. “Esse conjunto de possibilidade de dispositivos que envolvem internet das coisas (sen-

sores, drones e muita inteligência artificial) dá a possibilidade ao cidadão de saber o que está acontecendo na cidade, assim como possibilita que os gestores possam planejar os espaços comuns, a partir da coleta de informações, como sensores que informam acerca de lixo espalhado na cidade fora dos containers, basicamente esse conceito é bem atual, conhecido como wellness”, complementa. A cidade inteligente é, portanto, um estágio muito mais acima do que é a cidade digital. “Diante disso, algumas cidades no mundo, que já funcionam [de maneira inteligente], se programam para atender seus cidadãos, favorecendo-o em tudo que diz respeito às suas necessidades”, detalha Francês. A partir de 2018, iniciou-se uma conversa com a gestão municipal de Canaã dos Carajás. A própria definição do município que seria piloto não se deu por acaso: em função da intensa atividade minerária local, há um fundo com recursos advindos da atividade que movimenta a cidade. A lei municipal relacionada ao Fundo Municipal do Desenvolvimento Sustentável destina um percentual dos recursos de Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CEFEM) à execução relacionada à Ciência, tecnologia, inovação e educação. Em parceria com a USP, a UFPA encaminha todos os es-

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tudos de implantação da cidade inteligente. Em agosto de 2020, foi celebrado um convênio entre FADESP, UFPA e a prefeitura de Canaã de Carajás. A pandemia, a exemplo de todo o impacto causado no mundo, também impactou no ritmo de execução de todo o programa – especialmente no que diz respeito à formação de recursos humanos especializados – mas 4 projetos/ aplicativos já estão rodando e um deles, o “Fala Canaã”, é um meio de relatar problemas na cidade, como por exemplo uma calçada quebrada ou problemas na iluminação pública, permitindo que o poder público saiba mais rapidamente e resolva a questão. Entre docentes e alunos de pós-graduação da UFPA e USP, 15 pesquisadores de todos níveis compõem a equipe de Renato Francês.

Renato Francês


CIÊNCIA & INOVAÇÃO

Produtivo e competitivo Por Lorena Filgueiras Fotos: Estúdio Tereza & Aryanne / Divulgação

Sendo o Pará um dos maiores produtores e beneficiadores da bauxita, o estado detém o protagonismo de estudos relacionados à aplicação do resíduo do minério na construção civil.

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produção e beneficiamento local da bauxita coloca o estado do Pará dentre os quatro maiores produtores do mundo. Segundo dados da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia (Sedeme), só em 2020, as quase 29 toneladas de bauxita produzidas no Estado geraram um lucro de 134 milhões de dólares em exportação. O Pará ainda é, em todo o território brasileiro, detentor da maior produção – aproximadamente 91%. Se a vocação natural local já impressiona, há que se dizer também que o Pará lidera uma equipe multidisciplinar de estudos sobre o resíduo da bauxita. A Revista FADESP explica: para cada tonelada beneficiada do mineral, são gerados, em média, de 1 a 2 toneladas de resíduo de bauxita – um insumo cujo reaproveitamento é bem pouco. O grupo de estudos, que reúne a UFPA (por meio do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia – PRODERNA e o Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil – PPGEC) e Hydro, analisa várias aplicações ao insumo – desde a produção de artefatos cerâmicos, até a produção de agregados graúdos para concreto. “O projeto veio para impulsionar isso. Estamos adquirindo incentivos, tanto ao nível de custeio, quanto de compras de equipamentos. A ideia é analisar o agregado, desde o micro até o macro; da microscopia até a macroscopia, sua viabilidade técnica de utilização”, explica Alcebíades Negrão Macedo, professor titular da UFPA e vice-coordenador do grupo de estudos.

Alcebíades Negrão Macedo

Um dos resultados esperados é viabilizar a aplicação do resíduo, deixando de ser rejeito para ser matéria-prima. A viabilidade econômica é outra análise que está sendo feita. “Realizamos reuniões periódicas com a Hydro, que tem acompanhado todo esse processo de perto”, diz Macedo. Para a Hydro, empresa mineradora de bauxita, o projeto só tem a somar ao objetivo institucional, do ponto de vista de produção e produtos finais, que é de transformar a sociedade, por meio da inovação. “A sustentabilidade dessa cadeia produtiva está fortemente conectada ao propósito da empresa, de criar uma sociedade mais sustentável”, afirma Marcelo Montini, consultor químico sênior da empresa. “O resíduo de bauxita é considerado um bem econômico com valor social agregado”, complementa. Os benefícios são inúmeros, conforme explica Montini. “Quando ele deixa de ser resíduo e passa a ser produto, podendo substituir

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a brita, por exemplo, diminuindo a questão de resíduos, podendo impactar na redução de custos, aumentando a competitividade da indústria local”. Além de encontrar novos usos, estudos econômicos também estão sendo conduzidos, para que o produto final seja tão ou mais acessível que as opções mais conhecidas (e em uso). “O convênio com a UFPA é parceria muito rica e frutífera, além de ser muito importante para nós”, elogia Marcelo Montini. “Inovação é parte da valorização da ciência e de recursos locais. Temos certeza de que os frutos serão muito positivos”, finaliza. Alcebíades Negrão Macedo aponta uma perspectiva tão importante quanto conseguir a viabilidade de aplicação do resíduo em outros segmentos: a formação dos discentes, por meio de investimentos, e a formação de recursos humanos especializados. A FADESP atua como gerenciadora dos recursos, auxiliando na organização do financeiro e pagamento das bolsas aos alunos e pesquisadores envolvidos.

Marcelo Montini


Negacionismo e Desenvolvimento Sustentável Por Ricardo Galvão*

No Editorial do primeiro número da Revista FADESP, o Professor Roberto Barreto explicita sua indignação com a “onda de negação da ciência e tecnologia que estamos vivenciando no Brasil”, que pode seriamente minar nosso desenvolvimento econômico e social. De fato, o desenvolvimento sustentável, socialmente justo e globalmente equânime da humanidade só será viável através de políticas públicas solidamente ancoradas no conhecimento científico moderno. Infelizmente, o Governo Federal e boa parte de nossas lideranças políticas não têm essa percepção, continuando a defender o desenvolvimento econômico baseado na exploração capitalista predatória da natureza. Para realçar o desesperador contraste entre a visão retrógrada do atual governo com as de líderes bem mais lúcidos de outros países, nada mais apropriado do que ler um artigo de Angela Merkel, publicado na Revista Science, em 1998, quando ainda era Ministra do Meio Ambiente da República Federal da Alemanha [Science, 281, p.336 (1998)]. Nesse trabalho, ela chama atenção para os enormes desafios para a humanidade causados pelas mudanças globais e conclui: “O desenvolvimento sustentável só pode ter sucesso se todas as áreas do setor político, da sociedade e da ciência, aceitarem o conceito e trabalharem juntas para implementá-lo”. Uma das ferramentas mais eficazes utilizadas por aqueles que são contrários a esse entendimento é o negacionismo. O conceito de negacionismo científico ainda não está bem definido.

Muitos o confundem com obscurantismo, que está mais apropriadamente ligado a posicionamentos religiosos extremistas, que buscam negar resultados científicos que aparentemente se opõem a “verdades reveladas” em seus livros sagrados. Um exemplo bastante conhecido é a forte oposição à teoria da evolução, por alguns grupos cristãos mais fundamentalistas. O negacionismo científico moderno não está necessariamente acoplado a crenças religiosas. É uma forma de pseudociência baseada na persistente construção de falsas controversas sobre modelos e resultados científicos que ameaçam interesses econômicos, ideologias políticas ou situação de conforto de grupos poderosos. As redes sociais tornaram-se uma ferramenta extremamente poderosa na estratégia negacionista, porque, com sua superficialidade, dificultam a contra-argumentação mais aprofundada, característica da metodologia científica. Por isso, o negacionismo científico está se configurando como uma séria ameaça para o desenvolvimento sustentável da humanidade, como argumenta o Professor Sven Hanson [Studies in History and Philosofy of Science 63, p. 19 (2017)]. Um exemplo calamitoso desse negacionismo científico está relacionado à questão de mudanças climáticas e aquecimento global. A partir do trabalho seminal, de 1896, do prêmio Nobel de química Svante Arrhenius [Philosophical Magazine and Journal of Science 41, p.237 (1896)], seguido de um grande número de observações

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foto: acervo pessoal

OPINIÃO

experimentais e resultados de modelos climáticos bastante complexos, existe substancial evidência científica de que o aumento da concentração de gases do efeito estufa na atmosfera provoca um aumento da temperatura média da Terra muitíssimo mais rápido que o historicamente observado devido a efeitos naturais. A partir da revolução industrial, a concentração de gás carbônico na atmosfera aumentou de cerca de 290ppm, em 1880, para 400ppm, em 2020, e a temperatura média da Terra aumentou cerca de 1ºC no mesmo período, com uma taxa de 0,18ºC por década, a partir de 1970. A ferramenta que dispõe a humanidade para evitar essa catástrofe anunciada é reduzir substancialmente a emissão antrópica de gases do efeito estufa, como declarado em recente manifesto de cerca de 11.000 cientistas especializados [BioScience 70, p. 8 (2020)]. Mas essa estratégia contraria interesses políticos e interfere nos negócios e estilos de vida baseados na filosofia reacionária “business as usual”. Os grupos afetados então reagem através do negacionismo científico. Adepto do modelo de >>>


OPINIÃO

Projetos de sucesso têm a mão da FADESP.

Fadesp Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa

Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa Rua Augusto Correa s/n. Campus Belém/UFPA – Guamá • Belém-PA Cep: 66075-110 Telefones: (91) 98839.0607 4005.7480 / 4005.7493

O negacionismo científico moderno desenvolvimento capitalista preda(...) É uma forma tório, o Governo Federal começou a reagir mesmo antes da posse. Já de pseudociência em 2018, o ex-chanceler Ernesto de Araújo afirmou que a Mudanbaseada na ça Climática era um complô marxista. O sequestro de carbono persistente pelas florestas tropicais é uma das ferramentas mais eficaconstrução de falsas zes que dispõe a humanidade para reduzir a concentração controversas sobre de gás carbônico na atmosfera. Por isso, seguindo a modelos e resultados ideologia do governo, logo após a posse, o Ministro científicos que Ricardo Salles deu início ao desmonte dos sistemas de ameaçam interesses controle do desmatamento na Amazônia. Em particular, econômicos, atacou fortemente o INPE, considerado um obstáculo ideologias políticas ou indesejável, devido a seu trabalho de monitoramento por situação de conforto satélite desse desmatamento, respeitado internacionalmente. de grupos poderosos”. Seguindo a metodologia do negacionismo científico, deu declarações à imprensa e utilizou redes sociais para acusar os dados do INPE de imprecisos, culminando com a acusação do Presidente de que esses dados eram mentirosos. Para tentar desconstruir a reputação do INPE, o Ministro Salles usou algumas poucas imagens fornecidas pela empresa americana Planet, para “mostrar” a imprecisão dos resultados sobre desmatamento. Mas, como em toda pseudociência, essa estratégia fracassou. Os dados do INPE foram confirmados por pesquisadores da NASA e da Agência Espacial Europeia.

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Esse exemplo mostra que é urgente a comunidade científica, através de suas organizações, sociedades e academias, reagir fortemente ao negacionismo científico, em particular, através das redes sociais.

(*) Ricardo Galvão é professor titular do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e foi diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, de setembro de 2016 a agosto de 2019.


INSTITUCIONAL

Eficiência de ponta a ponta Texto e fotos: Brena Marques

Referência no segmento de concursos e seleções, a FADESP conta com rígidos controles de qualidade e segurança.

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Reprografia CCS Foto: divulgação CCS

esde 2005, quando passou a atuar no segmentado nicho de concursos, a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa já realizou 135 certames. Dentre as centenas de instituições e órgãos que buscaram a FADESP estão Prefeituras do Pará, Departamento de Trânsito do Estado do Pará (Detran), Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, Museu Paraense Emílio Goeldi, BANPARÁ, Polícia Militar, Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa), além de tantos outros. Provida de um setor inteiro dedicado a esse segmento, todos processos internos, do momento em que a Fundação é contratada, até a divulgação do resultado final, são controlados full time. Para que tudo ocorra de maneira irretocável, a Coordenação de Concursos e Seleções – CCS mantém seu parque tecnológico constantemente atualizado: além da sala cofre, que acondiciona as provas, garantindo segurança e total inviolabilidade, há ainda copiadoras de última geração que são utilizadas na reprodução das matrizes, sem qualquer ingerência ou contato externo com o conteúdo. “São impressas pelo analista de reprografia em um computador próprio e sem acesso à rede local ou internet, sendo monitorado por câmeras de segurança durante todo o processo”, menciona Moisés Martins, gestor da área de CCS. Uma vez impressas, as provas são embaladas e lacradas. Posteriormente, guardadas na sala-cofre, onde serão monitoradas 24 horas por dia, por meio de circuito interno criptografado. “Qualquer manutenção de equipamento ou estrutural é supervisionada. Na sala-cofre são realizadas a reprodução, conferência, empaco-

Concurso Cosanpa

tamento e leitura dos instrumentos avaliativos”, complementa Martins. Além disso, a CCS realiza a seleção dos fiscais e coordenadores das áreas do concurso, realizando treinamentos frequentes e de alta performance para que a condução dos processos seja irretocável – em todas as etapas. Elaborar concursos é trabalhoso, requer competência para produção, execução, além de um rigoroso sigilo. É o que FADESP tem feito nestes anos, procurando sempre aprimorar o desempenho e fornecer o melhor para os contratantes e público-alvo.

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Sala cofre

CCS- Coordenação de Concursos e Seleções Telefone: (91)4005.7427 E-mail: moises@fadesp.org.br


POR DENTRO DA FADESP

Conselho editorial da revista

Segurança no trabalho A pandemia de Covid-19 obrigou que empresas e pessoas implementassem cuidados redobrados, como medidas de prevenção e enfrentamento ao vírus. Nesse sentido, a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa - FADESP adaptou-se a novos modelos de trabalho, para manter as atividades de forma segura. No segundo lockdown determinado pelo governo estadual, o home office fluiu melhor e com melhores resultados. “Aprendemos muito da primeira vez e ajustamos o que precisava ser melhor ajustado”, diz Roberto Ferraz Barreto, diretor executivo da Fundação. Além da alternância de horários e equipes de trabalho, o monitoramento da saúde dos colaboradores foi intensificado. Aos que tiveram de trabalhar presencialmente, os protocolos de biossegurança foram ainda mais rígidos, por meio da higienização e sanitização diárias das salas do prédio-sede, além dos objetos e mobiliários de usos pessoais.

A Revista FADESP terá, a partir de sua próxima edição, um Conselho Editorial. A decisão, foi aprovada por unanimidade, durante a primeira reunião ordinária (virtual) do Conselho Diretor da Instituição. Em reunião extraordinária, a ser definida para junho ainda, serão eleitos os conselheiros. O Conselho Editorial tem, entre inúmeras funções, garantir a aplicação de boas práticas de divulgação e edital dos assuntos pautados na publicação.

Ação dia das mães

Modernização dos equipamentos de TI O investimento da FADESP em novos servidores e computadores modernos tem o propósito de melhorar o trabalho interno para que o atendimento externo com clientes (pesquisadores, professores, alunos, candidatos e outros) passasse a ser mais ágil e eficiente. O sistema operacional é o software de maior importância executado no computador, assim, a máquina pode executar todos os outros programas e cumprir suas funções. “A finalidade é ter mais liberdade e autonomia para efetuar as atividades. Aumentando a confiabilidade e a disponibilidade do sistema, pois agora ele não fica saindo do ar como o antigo. Ele também está adequado às novas leis, como a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais-LGPD, Lei da Transparência e outros”, explica Davi Frazão, coordenador de TI da FADESP. No orçamento deste ano, além do novo sistema, também foi estipulada a compra de novos computadores desktop, para começar a troca dos equipamentos em cada setor.

Mãe é sinônimo de amor, cumplicidade e ternura. Em homenagem a elas, a FADESP desenvolveu uma campanha presenteando nécessaires para as colaboradoras da fundação, uma forma simbólica de parabenizarmos todas as mães pelo seu encanto, proteção e cuidado incondicional.

I ENFAP/CONFIES A FADESP é presença confirmada no “I Encontro Norte das Fundações de Apoio/CONFIES”, a ser realizado virtualmente nos dias 23 e 24 de junho de 2021, trará debates sobre o futuro da ciência e tecnologia, com participação de nomes de grande visibilidade no segmento. Para acompanhar as informações e programação, siga o perfil do evento no instagram: @enfap_confies 20


I ENFAP/CONFIES

I Encontro Norte das Fundações de Apoio/CONFIES Dias 23 e 24 de junho de 2021 Evento totalmente on-line e gratuito Acompanhe novidades e programação em:

realização

enfap_confies


Ciência que transforma o futuro Ciência e educação são ferramentas que contribuem para a construção de um futuro mais viável. Por isso, a Hydro apoia e investe em iniciativas que contribuem nessas importantes áreas. Nesse contexto, firmamos mais uma parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA) para fomentar a ciência em prol do desenvolvimento de soluções inovadoras no enfrentamento à Covid-19. Além disso, também apoiamos a instituição por meio da doação de 890 tablets que irão possibilitar o acesso de estudantes de baixa renda ao ensino remoto. Ao todo, serão investidos R$ 1,9 milhão nessas iniciativas. Saiba mais sobre nossos projetos de apoio à pesquisa e desenvolvimento em:


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