A história começou durante uma caminhada pelas ruas do Centro de Florianópolis, em Santa Catarina. Um comerciante passava em frente a um hotel de luxo, quando ouviu o choro de um cachorro dentro de um contêiner e acabou resgatando o animal. A pequena vira-lata cor de mel ganhou o nome de Sukita e um lar.
Depois de quase um ano juntos, o comerciante resolveu então ir embora da cidade a pé e levou a cadelinha ao lado dele. Por um ano e meio, eles andaram mais de 2mil km até o Espírito Santo. Destino escolhido para viver uma nova vida profissional e pessoal.
Heuberth Lopes, 40 anos, tinha uma vida acelerada na capital catarinense. Ele morava nos Estados Unidos, mas acabou sendo deportado em 2011 e ficou longe dos filhos. Em Florianópolis ele trabalhava fazendo bicos em festas e hotéis como garçom.
No ano de 2013 quando voltava de um trabalho, ele encontrou quem seria sua grande parceira de vida. “Eu ouvi um choro de cachorro dentro de um contêiner do hotel onde trabalhava. Abri e vi uma cachorrinha do tamanho da minha mão dentro de um caixa de sapatos. Eu estava vivendo um vida sozinho, de depressão. Vi que essa seria uma forma de deixar viver um animal e me fazer feliz também”, disse Lopes.
A cadelinha ganhou o nome de Sukita. Ela e ele, mal sabiam que embarcariam em um grande desafio de fazer um ano sabático. Em 2014, com uma mochila de 18kg nas costas, os dois deixaram o litoral sul do país com objetivo de chegar ao sudeste.
“Eu não queria deixar ela para trás e organizei tudo para que fosse confortável pra ela. Saímos sem dinheiro e comida. Eu me permito fazer isso, para me curar de fase ruim. Na mochila eu tinha roupas, uma bandeira, água, um pouco de arroz e ração”, contou Heuberth.
Juntos eles passaram por cinco estados, apenas com uma mochila nas costas. Andaram a pé 1.900km, e outros 400km foi de carona com pessoas que se solidarizam durante todo o percurso até o estado capixaba. Enfrentaram frio, chuva e sol juntos.
Os dois amigos chegaram ao Espírito Santo em 2016. Hoje eles moram em uma casa no município de Mimoso do Sul, região Sul do estado. Ela com sete anos ajuda o então comerciante a tocar um quiosque em meio a uma praça na cidade. “Ela se tornou a minha melhor amiga. A minha alegria. Não me vejo sem ela mais”, disse entusiasmado Lopes.
Sukita ditava sempre os horário das caminhadas e até mesmo o percurso. Normalmente eram de 15 a 20km por dia. O celular com internet auxiliava também no trajeto. Na hora de dormir, Heuberth estendia a bandeira para se cobrir e ela logo se aproximava para descansar.
“Ela dormia debaixo da bandeira do Brasil. Sempre na rua quando eu estendia a bandeira para me cobrir, ela vinha logo perto dos meus pés e se cobria também com a bandeira de quatro metros. Foi assim por muitos meses”, explicou Heuberth.
Os dois amigos pausaram a viagem por duas vezes. A primeira na alta temporada ficaram três meses na cidade de Francisco do Sul em Santa Catarina e depois por oito meses na Ilha do Mel, no Paraná. Nesses locais, Heuberth buscava empregos temporários para se manter e também ajudar Sukita.
Na Ilha do Mel, ele conseguiu uma casa temporária e comida. Chegou a salvar mãe e filha de um afogamento. “Passei na hora que a mãe e a filha de 9 anos estavam se afogando e consegui resgatar elas. A mulher chegou a fazer uma carta de agradecimento a mim, por ter salvado a vida delas”, contou.
Em alguns lugares ele se abrigava até em aldeia de pescadores, ajudava a empurrar barcos e ate a vender peixes. Com isso ele também se alimentava e conseguia alguns “trocados” para seguir viagem com a cachorrinha.
A cadelinha que é a melhor amiga de Heuberth está hoje com sete anos. Por onde passou deixou uma marca - até mesmo um legado - e a sua trajetória. Ela tem oito filhos no total. Dois em Santa Catarina, outros dois no Paraná e quatro no Espírito Santo.
No Estado capixaba um dos filhos se chama até mesmo ‘Pepsi’, também seguindo a linha de marca de refrigerante. Porém o cachorrinho desapareceu em 2017 na cidade de Guarapari. O dono acredita que ele tenha sido roubado e levado para Minas Gerais.
“Ele tinha um crachá com nome e todo mundo gostava dele na praia. Sempre que andava com ele, as pessoas ficavam passando a mão. Eu não tenho costume de prender em coleirinhas e acredito que alguém possa ter levado ele embora”, explicou o comerciante.
Apesar da idade, Sukita ainda não foi castrada. Heuberth sempre cuidou da pequena levando ao veterinário durante todos esses anos. “A gente nunca passou fome. Sempre tinha ração para ela e comida pra mim. Levava ao veterinário, contava a minha história e eles ajudavam até com shampoo pra dar banho nela. É um carinho enorme que tenho por ela todos os dias”, disse Heuberth.
A vira-lata hoje é também atração onde moram. Super bem educada, adestrada e até realiza alguns troques de mágica com ajuda do melhor amigo. Uma amizade verdadeira que nasceu na dificuldade é que hoje no sucesso segue firme encantando a todos.
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