Por Luiz Felipe Barbiéri, G1 — Brasília


Lideranças alertam para o alto número de indígenas infectados

Lideranças alertam para o alto número de indígenas infectados

Representantes de entidades indígenas e especialistas afirmaram nesta quarta-feira (15), durante audiência virtual promovida pela Câmara dos Deputados, que está em curso um "genocídio" em distritos indígenas devido à pandemia do novo coronavírus. Representante do Ministério da Saúde que participou da audiência contestou e criticou o emprego da palavra "genocídio".

Boletim da Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde contabiliza 216 índios mortos por Covid-19 (doença provocada pelo coronavírus) em todo o país e 10.517 doentes confirmados entre indígenas. Para a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), os mortos são mais que o dobro (501) e os contaminados, mais de 14,7 mil.

De acordo com o censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população indígena do Brasil em 2010 era de 896,9 mil pessoas.

Índios ianomamis com máscaras de proteção facial em Alto Alegre, Rondônia — Foto: Reuters/Adriano Machado

“Isso não é fake news. Não é mentira. Cada um desses aqui tem endereço, tem aldeia, tem família”, disse Sônia Guajajara, coordenadora da Apib, a respeito dos números apresentados pela entidade.

Sônia Guajajara reclama da falta de um plano de contingência para conter as mortes de indígenas.

“Quando falo genocídio, não é exagero dizer que nós estamos em um genocídio em curso. Nosso povo está morrendo, e o Estado brasileiro continua fazendo de conta que está atendendo”, afirmou a líder indígena.

O secretário de Saúde Indígena do ministério, Robson Santos da Silva, que também participou da audiência, promovida pela Comissão Externa da Câmara de Enfrentamento à Covid-19, contestou.

“Dizer que o governo federal não trabalhou, dizendo que não se fez nada, que o indígena está abandonado, que é genocídio, com os números que estão sendo apresentados, eu preciso discordar”, afirmou o secretário.

“Eu gostaria de refutar a palavra extermínio, genocídio. Estou aqui para promover saúde. Não sou criminoso de guerra. Não vejo isso por parte do governo. É uma palavra que vão tentar emplacar, mas isso não faz parte do nosso discurso”, declarou Silva.

Para Leila Saraiva, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), se as mortes forem contidas, será por ação das entidades indígenas.

“Se o genocídio não acontecer da forma como vem acontecendo, não vai ser mérito do Estado, mas sim das organizações indígenas que estão construindo um plano com detalhamento de qualidade invejável”, afirmou. “Eles sim estão evitando o genocídio que está em curso”, disse.

No último dia 8, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou ao governo federal a adoção de medidas para proteger as comunidades indígenas e evitar as mortes pela Covid-19.

O secretário Robson Silva disse não considerar tardio o socorro às comunidades. Ele afirmou que prefeitos e governadores têm tido dificuldade em atender aos povos indígenas e cobrou uma ação conjunta com estados e municípios.

“A questão indígena, do cidadão indígena, é uma questão que precisa ser resolvida por todos os entes da federação, não só pelo governo federal”, afirmou.

“Não vejo como tardias essas ações porque temos 14 mil profissionais atuando em área. Estamos em área desde que começou. O que vamos fazer é um reforço inclusive em ação aos estados e municípios, que estão em dificuldade de agirem de forma mais contundente”, declarou.

Índios são vítimas do coronavírus na Amazônia

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Xavante, Araguaia e Xingu

Robson Santos Silva afirmou que os distritos sanitários indígenas Xavante, Araguaia e Xingu têm "problemas sérios" em relação ao novo coronavírus, mas disse que o governo está reforçando a assistência a essas populações.

Os distritos sanitários especiais indígenas pertencem ao Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS) e estão voltados ao atendimento das comunidades por meio de unidades básicas de saúdes e outras estruturas. O Brasil tem atualmente 34 distritos, divididos com base na ocupação geográfica dos índios.

Um informe epidemiológico da secretaria enviado à comissão da Câmara mostra que a taxa de letalidade nos distritos Xavante (10,7%), Araguaia (5,9%) e Xingu (5,7%) superam a média de letalidade dos distritos da Região Centro-Oeste (5,4%) — embora esses distritos não tenham o maior número absoluto de mortes.

“Hoje temos problemas sérios no Xavante, no Araguaia e no Xingu e é por isso que estamos indo para lá fazer ações”, afirmou o secretário.

Os três distritos estão entre os quatro com a maior taxa de letalidade de indígenas no país. O distrito de Pernambuco (5,8%), na Região Nordeste, completa a lista.

Segundo dados da secretaria, o distrito do Alto Rio Solimões é o que registra o maior número absoluto de mortos (28) seguido do Xingu (27) e do distrito do Maranhão (18).

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